“Meu sonho sempre foi ser pesquisadora. Meu pai não fez agronomia, então acho que de certa forma eu realizei o sonho dele”, afirma a pesquisadora Larissa Caixeta
Uma infância e adolescência vividas no campo. Os desafios de ser mulher em um ambiente majoritariamente masculino. O reconhecimento mundial pela contribuição em pesquisas para uma produção rural sustentável.
Esses aspectos conectam as trajetórias das cientistas Leila Luci Dinardo-Miranda e Larissa Caixeta, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. As duas entraram no ranking mundial da revista Forbes das 100 mulheres doutoras do agro, publicado em 2023.
A homenagem listou profissionais que contribuíram para o progresso da produção de alimentos, fibras e bioenergia. Leila e Larissa pesquisam pragas e nematóides (espécies de vermes) que atingem as culturas de cana-de-açúcar e café.
“Hoje, o nematóide é uma das principais doenças do café e muitas vezes o produtor percebe apenas quando o cafeeiro já está morrendo. Por isso, é importante fazer análise dessa população. Nematóide sempre vai ter, mas é preciso controlar em um nível que não gere perda de produtividade”, explica Larissa, de 36 anos de idade, 17 deles dedicados à pesquisa acadêmica.
No IAC, atuou de 2017 a 2022 como pesquisadora de pós-doutorado. Atualmente, dá continuidade aos estudos na área no Instituto Biológico, também ligado à Secretaria de Agricultura. As variedades resistentes à praga desenvolvidas pelas pesquisas já foram registradas e estão disponíveis no mercado.
Enquanto fazia doutorado na Universidade da Califórnia, Larissa também participou de uma pesquisa que se tornaria referência nos estudos da área.
Já Leila Luci Dinardo-Miranda dedica a carreira ao estudo do manejo integrado de pragas e nematóides na cana-de-açúcar. A cientista tem doutorado em genética e é diretora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Cana do IAC, onde é pesquisadora desde 1994.
Os resultados de seus estudos levaram soluções sustentáveis a diversas regiões canavieiras do Brasil e são compartilhados com outros países.
“Entre os principais fatores limitantes da produtividade de cana estão as pragas e os nematóides. O trabalho que desenvolvemos durante todos esses anos no IAC contribuiu muito para resolver ou minimizar os problemas. Grande parte do que o setor hoje adota é baseado nos nossos trabalhos”, afirma Leila.
Quando passou a atuar no Centro de Cana em Ribeirão Preto, Leila realizou o sonho de trabalhar no mesmo local em que o pai havia atuado
Infância no campo e inspiração paterna
A ligação de ambas com o campo e a agricultura remete à infância e à figura do pai. No caso de Leila, seu pai era técnico agrícola da estação experimental do IAC em Ribeirão Preto, que depois se tornaria o Centro de Cana do instituto, onde a pesquisadora viria a fazer carreira.
”Eu cresci na fazenda, passei lá toda a minha infância e juventude. Minha ligação com a agricultura e, especialmente, com o Instituto Agronômico foi sempre muito íntima”, relata.
Depois de se formar em Agronomia na Unesp de Jaboticabal no início da década de 1980, com apenas 20 anos, Leila foi trabalhar na iniciativa privada e fez um mestrado na área de cana. Passou no concurso público para o IAC após concluir o doutorado.
Quando passou a atuar no Centro de Cana em Ribeirão Preto, realizou o sonho de trabalhar no mesmo local em que o pai havia atuado.
A inspiração de Larissa Caixeta não foi diferente. Ela decidiu fazer agronomia em Viçosa (MG) por causa do pai, produtor de soja em Vianópolis, pequena cidade do interior de Goiás. “Eu o via ali trabalhando e decidi que queria isso. Mas eu não queria ficar no campo igual a ele. Meu sonho sempre foi ser pesquisadora. Meu pai não fez agronomia, então acho que de certa forma eu realizei o sonho dele”, afirma.
Larissa conta que apenas 30% de sua sala na graduação eram mulheres. Apesar da disparidade, ela considera que a pesquisa acadêmica é mais “inclusiva” que o campo
Mulheres no agro
O pai de Leila Luci Dinardo-Miranda não queria que ela fizesse agronomia, por ser uma área com predominância masculina. “Na minha adolescência, ele insistia que eu fizesse medicina. Eu poderia fazer, tinha um bom desempenho na escola. Mas bati o pé e fui fazer agronomia”, afirma a cientista, cuja sala de graduação tinha 4 mulheres e 41 homens. “Éramos muito raras, o caminho era mais árduo para as mulheres nessa área”.
Mais de 40 anos depois, ela considera que a representatividade feminina no agro avançou. “Já vejo muitas mulheres no corpo técnico das usinas, por exemplo. Claro que não são maioria, mas já são em número muito maior”, avalia.
Prova disso, diz, é o fato de que suas duas filhas, de 31 e 27 anos, decidiram seguir na área da mãe.
Mas o caminho não foi fácil. Enquanto elas cresciam, Leila seguia na rotina de trabalho e viagens que o ofício exige. Para ela, o apoio da família foi fundamental.
“Já vejo muitas mulheres no corpo técnico das usinas, por exemplo. Claro que não são maioria, mas já são em número muito maior”, avalia Leila.
”Minhas próprias filhas, desde pequenas, entenderam que essa era minha vida: viajar, trabalhar, sair cedo e chegar tarde. Claro que procurei sempre dar muita atenção a elas. Eu me desdobrava para levar na escola, ir nas reuniões. Me esforcei para ser uma boa mãe e elas entenderam isso. O fato de as duas seguirem minha profissão mostra que de fato entenderam”, afirma.
Larissa Caixeta conta que apenas 30% de sua sala na graduação eram mulheres. Apesar da disparidade, ela considera que a pesquisa acadêmica é mais “inclusiva” que o campo. “Quando a gente viaja, vejo que tem muito mais homens. Às vezes, em viagens, me sentia meio fora do ninho. Mas sinto que estamos avançando, ganhando mais espaço e respeito.”
Assim como fez a colega de profissão e de trajetória, a pesquisadora concilia a atribulada vida acadêmica com a educação de um filho pequeno. “Eu espero a babá chegar de manhã para sair para trabalhar. À noite, quando chego em casa, é o segundo turno: cozinho e dou atenção a ele ao mesmo tempo”, relata.
Lista da Forbes e trabalho em equipe
Para as duas cientistas, a presença de seus nomes na lista da Forbes é fruto do trabalho em equipe no IAC. ”É um reconhecimento não só do meu trabalho, mas das pessoas que trabalham comigo. Represento a instituição”, afirma Leila.
Já Larissa diz não se considerar uma das cem melhores doutoras do agro, mas uma representante de todas as mulheres que seguem esse caminho. “Preciso agradecer a todo mundo que colaborou comigo em todo meu caminho de pesquisa. São muitas pessoas e sou muito grata a todos por ter tido esse reconhecimento”, diz.
O post Da infância no campo à lista da Forbes: doutoras do agro de SP falam sobre a carreira apareceu primeiro em Governo do Estado de São Paulo.
“Meu sonho sempre foi ser pesquisadora. Meu pai não fez agronomia, então acho que de certa forma eu realizei o sonho dele”, afirma a pesquisadora Larissa Caixeta
Uma infância e adolescência vividas no campo. Os desafios de ser mulher em um ambiente majoritariamente masculino. O reconhecimento mundial pela contribuição em pesquisas para uma produção rural sustentável.
Esses aspectos conectam as trajetórias das cientistas Leila Luci Dinardo-Miranda e Larissa Caixeta, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. As duas entraram no ranking mundial da revista Forbes das 100 mulheres doutoras do agro, publicado em 2023.
A homenagem listou profissionais que contribuíram para o progresso da produção de alimentos, fibras e bioenergia. Leila e Larissa pesquisam pragas e nematóides (espécies de vermes) que atingem as culturas de cana-de-açúcar e café.
“Hoje, o nematóide é uma das principais doenças do café e muitas vezes o produtor percebe apenas quando o cafeeiro já está morrendo. Por isso, é importante fazer análise dessa população. Nematóide sempre vai ter, mas é preciso controlar em um nível que não gere perda de produtividade”, explica Larissa, de 36 anos de idade, 17 deles dedicados à pesquisa acadêmica.
No IAC, atuou de 2017 a 2022 como pesquisadora de pós-doutorado. Atualmente, dá continuidade aos estudos na área no Instituto Biológico, também ligado à Secretaria de Agricultura. As variedades resistentes à praga desenvolvidas pelas pesquisas já foram registradas e estão disponíveis no mercado.
Enquanto fazia doutorado na Universidade da Califórnia, Larissa também participou de uma pesquisa que se tornaria referência nos estudos da área.
Já Leila Luci Dinardo-Miranda dedica a carreira ao estudo do manejo integrado de pragas e nematóides na cana-de-açúcar. A cientista tem doutorado em genética e é diretora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Cana do IAC, onde é pesquisadora desde 1994.
Os resultados de seus estudos levaram soluções sustentáveis a diversas regiões canavieiras do Brasil e são compartilhados com outros países.
“Entre os principais fatores limitantes da produtividade de cana estão as pragas e os nematóides. O trabalho que desenvolvemos durante todos esses anos no IAC contribuiu muito para resolver ou minimizar os problemas. Grande parte do que o setor hoje adota é baseado nos nossos trabalhos”, afirma Leila.
Quando passou a atuar no Centro de Cana em Ribeirão Preto, Leila realizou o sonho de trabalhar no mesmo local em que o pai havia atuado
Infância no campo e inspiração paterna
A ligação de ambas com o campo e a agricultura remete à infância e à figura do pai. No caso de Leila, seu pai era técnico agrícola da estação experimental do IAC em Ribeirão Preto, que depois se tornaria o Centro de Cana do instituto, onde a pesquisadora viria a fazer carreira.
”Eu cresci na fazenda, passei lá toda a minha infância e juventude. Minha ligação com a agricultura e, especialmente, com o Instituto Agronômico foi sempre muito íntima”, relata.
Depois de se formar em Agronomia na Unesp de Jaboticabal no início da década de 1980, com apenas 20 anos, Leila foi trabalhar na iniciativa privada e fez um mestrado na área de cana. Passou no concurso público para o IAC após concluir o doutorado.
Quando passou a atuar no Centro de Cana em Ribeirão Preto, realizou o sonho de trabalhar no mesmo local em que o pai havia atuado.
A inspiração de Larissa Caixeta não foi diferente. Ela decidiu fazer agronomia em Viçosa (MG) por causa do pai, produtor de soja em Vianópolis, pequena cidade do interior de Goiás. “Eu o via ali trabalhando e decidi que queria isso. Mas eu não queria ficar no campo igual a ele. Meu sonho sempre foi ser pesquisadora. Meu pai não fez agronomia, então acho que de certa forma eu realizei o sonho dele”, afirma.
Larissa conta que apenas 30% de sua sala na graduação eram mulheres. Apesar da disparidade, ela considera que a pesquisa acadêmica é mais “inclusiva” que o campo
Mulheres no agro
O pai de Leila Luci Dinardo-Miranda não queria que ela fizesse agronomia, por ser uma área com predominância masculina. “Na minha adolescência, ele insistia que eu fizesse medicina. Eu poderia fazer, tinha um bom desempenho na escola. Mas bati o pé e fui fazer agronomia”, afirma a cientista, cuja sala de graduação tinha 4 mulheres e 41 homens. “Éramos muito raras, o caminho era mais árduo para as mulheres nessa área”.
Mais de 40 anos depois, ela considera que a representatividade feminina no agro avançou. “Já vejo muitas mulheres no corpo técnico das usinas, por exemplo. Claro que não são maioria, mas já são em número muito maior”, avalia.
Prova disso, diz, é o fato de que suas duas filhas, de 31 e 27 anos, decidiram seguir na área da mãe.
Mas o caminho não foi fácil. Enquanto elas cresciam, Leila seguia na rotina de trabalho e viagens que o ofício exige. Para ela, o apoio da família foi fundamental.
“Já vejo muitas mulheres no corpo técnico das usinas, por exemplo. Claro que não são maioria, mas já são em número muito maior”, avalia Leila.
”Minhas próprias filhas, desde pequenas, entenderam que essa era minha vida: viajar, trabalhar, sair cedo e chegar tarde. Claro que procurei sempre dar muita atenção a elas. Eu me desdobrava para levar na escola, ir nas reuniões. Me esforcei para ser uma boa mãe e elas entenderam isso. O fato de as duas seguirem minha profissão mostra que de fato entenderam”, afirma.
Larissa Caixeta conta que apenas 30% de sua sala na graduação eram mulheres. Apesar da disparidade, ela considera que a pesquisa acadêmica é mais “inclusiva” que o campo. “Quando a gente viaja, vejo que tem muito mais homens. Às vezes, em viagens, me sentia meio fora do ninho. Mas sinto que estamos avançando, ganhando mais espaço e respeito.”
Assim como fez a colega de profissão e de trajetória, a pesquisadora concilia a atribulada vida acadêmica com a educação de um filho pequeno. “Eu espero a babá chegar de manhã para sair para trabalhar. À noite, quando chego em casa, é o segundo turno: cozinho e dou atenção a ele ao mesmo tempo”, relata.
Lista da Forbes e trabalho em equipe
Para as duas cientistas, a presença de seus nomes na lista da Forbes é fruto do trabalho em equipe no IAC. ”É um reconhecimento não só do meu trabalho, mas das pessoas que trabalham comigo. Represento a instituição”, afirma Leila.
Já Larissa diz não se considerar uma das cem melhores doutoras do agro, mas uma representante de todas as mulheres que seguem esse caminho. “Preciso agradecer a todo mundo que colaborou comigo em todo meu caminho de pesquisa. São muitas pessoas e sou muito grata a todos por ter tido esse reconhecimento”, diz.
O post Da infância no campo à lista da Forbes: doutoras do agro de SP falam sobre a carreira apareceu primeiro em Governo do Estado de São Paulo.
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